quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Psicólogos criticam convicções da Igreja

Não há um único estudo que prove o risco de uma criança ser educada por homossexuais.

"Confundir convicções com Ciência é grave", diz Carlos Poiares. O cardeal Saraiva Martins fê-lo ao afirmar que homossexuais não podem educar crianças, disse aquele especialista. Outros ouvidos pelo JN reagiram com perplexidade.

"Uma coisa são as nossas crenças; outra coisa, bem diferente, são as evidências científicas. E, cientificamente, não há nenhuma teoria, dentro ou fora de Portugal, que prove a vantagem ou desvantagem de uma criança ser educada por duas pessoas do mesmo sexo", afirma, indignado, Carlos Poiares, especialista em psicologia forense e autor de vários trabalhos na área da justiça e da exclusão social, recordando que a adopção por homossexuais é "uma questão de Direito e não de crenças religiosas". Aliás, reforça, "em Portugal há muitas crianças educadas no seio de famílias monoparentais, porque o pai morreu ou está preso. Talvez a Igreja devesse preocupar-se mais com a pobreza ou a exclusão para que um dia não tenha que pedir - como fez, tarde demais, com os judeus - perdão aos homossexuais."

Mas para a Igreja, os homossexuais serão como os judeus ou os toxicodependentes ou como os conceitos de casamento civil ou de divórcio, realidades que o clero sempre teve dificuldade em assimilar ou não aceita de todo.

"Não são normais", afirmou claramente D. José Saraiva Martins, anteontem à noite, no Casino da Figueira da Foz, referindo-se aos homossexuais. "A união de homossexuais não pode providenciar a formação das crianças." [ver rodapé].

"Igreja separa em vez de unir"

Eduardo Sá, psicólogo reconhecido pela longa experiência de acompanhamento de crianças e das suas famílias, reagiu mal à declaração. "Como cidadão, fico triste com uma Igreja que em vez de ser fonte de unificação, sensatez e bondade, investe apenas na clivagem das pessoas. Como técnico, estou perplexo", confessou.

"É imprudente dizer uma coisa dessas quando tantas crianças são educadas fora dos cânones tradicionais: pela mãe, avó, tia ou mesmo pela empregada", diz. "Não nego que um casal homossexual que encobre valores atrás do pó-de-arroz pode fazer mal à criança. Mas não mais do que um casal heterossexual que faz exactamente o mesmo. As crianças percebem a hipocrisia e a fachada".

Ressalvando que não é a sua área de acção, o psiquiatra António Palha não esconde a posição pessoal: "As crianças precisam de um ambiente equilibrado. Famílias disfuncionais são obviamente traumatizantes. Mas quem disse que um casal heterossexual é mais equilibrado e menos promíscuo do que um homossexual?"


HELENA TEIXEIRA DA SILVA - Jornal de Notícias

Sem comentários: