quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Abortos - Homens a falar

Diz João César das Neves que, se o ‘Sim’ vencer, abortar passa a ser como comprar telemóveis. Só um homem poderia dizer tal dislate. Marcelo Rebelo de Sousa é mais fino, mas repete-o. Diz que vota ‘Não’ porque é contra abortos «por um incómodo, um estado de alma, uma mudança de residência». Pacheco Pereira, por sinal homem, mas com experiência de vida, colocou o dedo na ferida: «Haverá mulheres irresponsáveis nos abortos que fazem, como nos filhos que fazem, mas duvido que sejam a regra. A regra é que aborto é sofrimento (…) e é sobre ele que vamos votar». Nem mais. É possível o erro, mas nenhuma mulher aborta por desporto.

O professor acrescenta que, ainda por cima, «ninguém as convida a reflectir». Eis como a verdade serve a mentira. Só mulheres desesperadas e sem recursos decidem em estrita e imensa solidão. O aborto de vão de escada e por parteiras improvisadas prova essa tragédia. Mas, em todos os outros casos, a consulta existe. Ninguém chega a uma clínica dizendo «quero abortar» e é logo operada. Só um homem pode pensar tal coisa.

Não por acaso, quem defende o ‘Sim’, sustenta a existência de estabelecimentos de saúde certificados para o efeito. Podem ser públicos ou privados. Mas, se numa clínica privada o aborto é uma receita, no hospital público é uma despesa. Neste, a consulta que antecede a eventual operação pesa na decisão da mulher. Na clínica privada, isso só acontece quando a honestidade paira acima dos euros. Mais: a consulta em estabelecimento público coloca a mulher sem recursos e desinformada numa fileira de planeamento familiar. Ajudada na decisão, pode em seguida ser acompanhada. Esta não é a vocação da clínica privada.

O que está em causa não é ‘apenas’ colocar uma pedra sobre a perseguição judicial. A 11 de Fevereiro, decidem-se os contornos da lei que o Parlamento terá que aprovar. Isso só acontecerá se o ‘Sim’ vencer. Porque este referendo é sobre a manutenção ou a mudança da lei actual. Não há contorcionismo argumentativo que resolva esta escolha fundamental.

[Miguel Portas]

1 comentário:

Anónimo disse...

ora até que enfim que vejo algo mais sério para ser debatido.

sinceramente não acredito que haja alguém que seja a FAVOR DA REALIZAÇÃO DE ABORTOS.

eu sou totalmente contra!!!

acontece que mais uma vez "alguém" quer politizar esta questão, por interesses politico-partidários. mexendo sempre com as questões religiosas, valores morais, etc etc e assim fazerem o balanço estatístico dos votos em leituras de resultados SEMPRE esquizofrénicas, que em nada têm a haver com a realidade.

o que está em questão no próximo dia 11 é tão somente se estamos ou não a favor da penalização judicial/criminal às Mulheres que por razões pessoais, que aqui neste momento não interessam, não têm outro remédio se não abortar!

eu jamais abortaria!!!! é uma questão Pessoal que vem dos meus princípios morais.

mas quem sou eu para impingir que outras pessoas tenham que pensar como eu???

porque não terão direito a ter a sua própria liberdade de escolha???

mais absurdo é observar muitos dos homens que defendem o "não à despenalização" e perceber que os gajos nem imaginam o que é ser mulher! SE OLHASSEM COM MAIS DECÊNCIA E RESPEITO PARA AS VOSSAS perceberiam que isto de questões Morais cada um tem direito a ter as suas!!!

Afinal, vivemos ou não num País Livre?! Onde foi para os ideais do pós 25 de Abril?