terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Carlos A. Saraiva - Até Sempre
(1946 - 2008)

Partiu um Homem bom !

Por vezes e quando menos se espera somos assaltados por um inexplicável vazio, um incompreensível sentimento de perda, uma gritante impotência que nos deixa atónitos perante o que nos rodeia, os nossos afazeres, as nossas vidas.

Foi isso que senti na passada quinta-feira quando confrontado pela notícia do súbito e inesperado desaparecimento do Carlos Saraiva. Tinha estado com ele horas antes, na véspera, na tomada de posse de novas dirigentes da Câmara Municipal. Guardo a imagem dele nesse dia, igual a todos os outros, sempre cordial, sempre correcto, sempre profissional.

Entre toda a estima e consideração que sentia por ele, percebi nessa manhã de mágoa que não era o único a pensar assim. Traduzido nos rostos fechados dos meus colaboradores, nos olhares sofridos que com o meu se cruzavam, havia uma esmagadora sensação de vazio que só a perda de alguém de quem verdadeiramente gostamos pode despertar.

No ar e a espaços ouviam-se memórias de onde sobressaía a estima, a consideração e a amizade que todos lhe dedicavam. Havia por isso a certeza de que, nesse dia, todos ficámos mais pobres.

Conheci o Carlos Saraiva há já alguns anos. Conhecia dele as passagens por importantes órgãos de comunicação social nacionais que marcaram a história recente de Portugal. Da “República” à “Luta”; do “Portugal Hoje” à “Grande Reportagem”. Mas conhecia sobretudo a dedicação, a entrega, o prazer e a convicção do papel que ele desempenhava na imprensa local através do “Jornal de Oeiras”.

À sua acção muito devemos, no nosso Concelho, uma imprensa local forte e respeitada, isenta e rigorosa, dedicada e profissional. Era por este semanário que os oeirenses se habituaram a uma cobertura exaustiva de tudo o que se passava no nosso Município. Foi com ele que fomos reforçando o sentimento de pertença comum a uma comunidade.

Na altura em que se preparava a comemoração neste número do quarto aniversário do “Jornal de Oeiras”, quis o destino que nos víssemos privados do seu maior impulsionador. A vida é assim, por vezes exuberante, por vezes incompreensível e sem grandes certezas no amanhã.

Mas deste mar de dúvidas, uma coisa tenho como certa: o melhor tributo ao exemplo de dedicação e profissionalismo do Carlos Saraiva é continuarmos a sua obra, dando corpo aos seus sonhos, consolidando os seus ideais. Porque, homens bons como ele, não aparecem todos os dias.

Isaltino Morais
Presidente da Câmara Municipal de Oeiras

in Jornal de Oeiras Ano IV nº192 de 19 de Fevereiro/2008

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