Entrevista a Pedro Passos Coelho:
Fez um caminho diferente: começou na política e foi líder da JSD, estudou para mergulhar na vida empresarial. Foi daí que há pouco emergiu, depois de dois casamentos e três filhos, para disputar o partido e com a ambição de chegar a primeiro-ministro. Tem planos e confessa, à margem da entrevista, que gostaria de ver o Estado sair do controlo das grandes empresas e dos bancos. Não acredita que o Estado seja a cura para todos os males
Há uma parte do País que o vê mais como oposição a Manuela Ferreira Leite do que empenhado em derrotar o PS nas próximas eleições. O que pensa deste facto?
Bem, eu espero que quer dentro do PSD quer fora a perspectiva não seja essa. Porque aquilo que me motiva é trazer, por meio do PSD, um discurso de mudança e de esperança para a sociedade portuguesa.
Pacheco Pereira repetidamente o diz.
Pode haver pessoas que tenham outro entendimento e Pacheco Pereira normalmente discordou de mim, portanto, não é uma grande novidade. O que é importante é que as pessoas percebam que o que me motivou quando me candidatei a líder do PSD nas últimas eleições directas foi trazer uma mensagem de mudança e de esperança para a sociedade portuguesa que, no meu entendimento, conseguia, com um conjunto de gente preparada, levar ao País. Perdi as eleições e, talvez, o facto de ainda estarem relativamente próximas possa ajudar a manter viva a ideia de alternativa que constituí dentro do PSD. Teria preferido ganhar, mas aceito o resultado das eleições. Isso não impede que não dê o meu contributo à afirmação do PSD com as minhas ideias, e é isso que tenho feito.
Ao dar o contributo mantém-se na primeira linha. Pretende ser presidente do PSD?
Se algum dia o PSD precisar de mim para esse efeito, se achar que as ideias que defendo podem ser importantes para a mudança do partido ou do País, eu estarei presente.
Mesmo antes das próximas eleições legislativas?
Não e isso é uma questão diferente. Essa é a questão de saber se Manuela Ferreira Leite vai levar o seu mandato até ao fim ou não. Eu julgo que tem todas as condições para levar o seu mandato até ao fim porque foi eleita directamente pelos militantes. Qualquer líder partidário que seja eleito por esse processo só sai se na sua avaliação, e na das pessoas que o acompanham, da sua equipa, falharem as condições para obter um bom resultado nas eleições. Essa avaliação deve ser feita por ela. Digo a este propósito o que disse na altura a Filipe Menezes: nunca pedi a demissão de Filipe Menezes, nem a de Ferreira Leite pedirei. Essa avaliação tem de ser feita pelos dirigentes do partido.
Mas há o pós-eleições. Se Ferreira Leite perder as eleições, anuncia no dia seguinte a candidatura à liderança ou deixa novamente a política?
A avaliação do que se deve fazer a seguir às eleições é uma matéria que só pode ser vista nessa altura. Portanto, não vou fazer nenhuma especulação sobre isso. Não é pelo facto de ter perdido as eleições que deixarei de pensar o que penso sobre o País e sobre o PSD e se um dia essa minha visão se voltar a encontrar no momento eleitoral, eu estarei presente e defenderei essas minhas ideias. Não sou uma espécie de eterno candidato à liderança do PSD, daqueles que ficam, rezingonamente, sempre à espera de uma oportunidade para se candidatarem àquele lugar. No é isso que me motiva! Enquanto não tiver a percepção de que os militantes do PSD recusam liminarmente uma alternativa e uma via como aquela que eu proponho, tenho obrigação de lutar pelo que acredito. E é isso que farei, e que faço.
Há gente que olha para o PSD e desconfia que já não é alternativa ao PS. As últimas sondagens demonstram que é longo o caminho para o PSD!
Com a apreensão própria de quem não pode desvalorizar inteiramente as sondagens, porque elas são retrato momentâneo daquilo que se passa, mas quando repetido dão um sentido de que há coisas que nós precisávamos de fazer e que ainda não estamos a fazer. Na quinta--feira, Manuela Ferreira Leite disse que era preciso ainda dar algum tempo para que as pessoas assimilassem o novo caminho que o PSD está a fazer. Espero que esse momento de viragem, esse clique com o País, aconteça muito rapidamente, porque a enraizar-se a ideia de que o PSD não é alternativa, isso significa.
A mensagem do PSD não está a passar para o País?
Não é uma questão subjectiva, é objectiva e reconhecida pela própria presidente do PSD. Eu acho que quando as pessoas estão a ouvir os políticos a pior coisa que um político pode fazer é fazer de conta que a realidade não existe. E essa circunstância é verdadeira, o PSD tem de ter uma afirmação maior e é necessário fazê-la não em nome de qualquer resultado eleitoral, que seja vantajoso para o partido, mas em nome de uma ideia de mudança para o País. E é esse projecto, conforme tenho vindo reiteradamente a afirmar, que é indispensável que comece a passar para o exterior do PSD e que as pessoas o possam percepcionar.
Já disse há dois meses que o PSD não tinha muito tempo para criar uma alternativa ao Governo. Até sugeriu uma aceleração para chegar aos eleitores de modo mais rápido!
E mantenho o que disse!
Não mudou nada em dois meses?
A estratégia que foi adoptada, de deixar para mais tarde a apresentação de um projecto alternativo, teve, como eu temia, um custo efectivo. E esse custo está reflectido nestas sondagens. É importante que o PSD não perca mais tempo a apresentar o seu programa e tenho dado os meus contributos.
Também o disse há dois meses. Está preocupado com o passar do tempo?
Claro que estou preocupado!
Se o clique não acontecer rapidamente, voltará a discussão sobre quem será o líder do PSD que melhor enfrentará José Sócrates nas próximas legislativas?
Julgo que aquilo que resultará, em nome da estabilidade do PSD e da criação de condições para uma afirmação importante do PSD na opinião pública, tal como o que resulta da minha acção e da minha vontade, já está esclarecido. Respeito os resultados eleitorais, acho que Ferreira Leite tem toda a legitimidade para ser candidata a primeiro-ministro, acho que o PSD deve formalizar o mais rapidamente possível - há dois meses já era tarde, agora mais tarde é - as suas propostas. Eu dou um contributo no sentido de dizer o que é que acho que é importante que o PSD transmita ao País.
E há quem diga que passa a vida a marcar politicamente a líder. Isso é bom ou mau?
Não tenho feito nenhuma marcação a Manuela Ferreira Leite, e, ao que parece, ela própria reconheceu isso ainda esta semana numa entrevista. Não é esse o entendimento que ela própria faz, não é essa a minha intenção.
A imprensa é perversa quando faz essa interpretação?
Não é o que subjaz àquilo que é a minha preocupação, que é poder ajudar a trazer pessoas que não estão dentro do PSD para a área do partido. Trazê-las para as ouvir e pôr a debater para que o PSD possa ter um mecanismo mais alargado junto da sociedade civil, de percepção do que é que são as preocupações das pessoas e quais são as novas soluções que devem procurar-se, mas, também, de poder trazer algum factor de diferenciação em relação ao PS.
Há uma componente interna do PSD, dirigentes como João Jardim, que já fez um ultimato à presidente de que até ao fim de Fevereiro tinha de provar o que é que vale. Temos Menezes a preparar um congresso... O PSD tem a certeza de que deve ser Manuela Ferreira Leite a ir a eleições?
Não posso falar pelas outras pessoas, Jardim ou Menezes. Não tenho tido esse entendimento.
Mas pode comentar...
Alberto João Jardim até já mudou de opinião! Acho que das duas, uma: ou Ferreira Leite e a sua equipa acham que têm tónus suficiente, que têm ideias suficientemente diferenciadoras face ao PS, porque são essas as condições para que o PSD se afirme na sociedade portuguesa! Não é ter toda a gente dentro do PSD de acordo com o que está decidido, isso nunca existirá nos partidos! É saber: as nossas ideias são as ideias certas? Chegam às pessoas? Fazem esse clique com as pessoas, as pessoas acreditam que é por aí que se tem de mudar? Estas são as condições que são necessárias. Se temos essas condições, vamos para a frente! A minha lealdade é ao PSD, não em particular a uma pessoa, impõe-me a obrigação de ajudar a direcção do PSD e o partido a alcançar esse resultado. Ajudar com as minhas ideias... Se a direcção do PSD ou Manuela Ferreira Leite entenderem que não têm essas condições - quando acontecer, daqui a um mês ou daqui a três -, se acharem que não têm então, não temos que andar a fazer nem congressos nem outras coisas, tem de se fazer eleições! Há uma demissão e há eleições. Se me pergunta: "Acha que é muito útil, em ano de eleições, os partidos estarem a precipitar"
Também não acha o melhor?
Ninguém acha, mas se a avaliação for negativa não viraremos a cara aos problemas e estaremos disponíveis e prontos. Há uma coisa que eu garanto: o PSD não tem nenhuma razão para temer cenários de antecipações de eleições ou confrontos com o eleitorado. Esteja esta direcção muito convencida do seu papel ou não, porque os partidos estão muito para além dos seus presidentes e das suas equipas directivas. Se o PSD precisar de ir a eleições, estará sempre preparado, terá propostas e ideias suficientes para mobilizar a sociedade portuguesa, é o meu convencimento, por isso é que faço parte do PSD.
Se fosse líder do PSD, Santana Lopes era o seu candidato à Câmara de Lisboa?
Quando me candidatei, disse que a escolha dos candidatos às câmaras deveria ser uma decisão eminentemente das secções do PSD e das distritais.
Então está de acordo?
Da mesma maneira que entendo que a escolha do Governo ou a escolha dos candidatos à Assembleia da República devem ser eminentemente - não só, mas eminentemente - uma escolha nacional. E disse mais, que se fosse vontade dos militantes do PSD de Lisboa e do próprio Santana Lopes que ele se candidatasse à Câmara de Lisboa, teria o meu apoio para isso. Há alguns meses disse que achava que ele era um candidato forte e é o que penso hoje também.
Então considera que Gonçalo Amaral deve ser o candidato do PSD em Olhão?
Acho que o papel da Comissão Política Nacional, no caso das escolhas autárquicas, deve ser sobretudo no sentido de facilitar, ajudar.
A líder do PSD acha que Amaral não faz sentido em Olhão.
Não acompanhei o processo de Gonçalo Amaral. Se ele não for contrário ao programa do PSD, e, portanto, se não for um absurdo ter a candidatura de alguém que, no fundo, funciona como um cavalo de Tróia no PSD, e se tem o apoio da secção e da distrital por que razão é que a Comissão Política Nacional há-de interferir no processo? Eu aqui tenho uma posição subsidiária, acho que ser presidente de um partido não é ser dono dele. E ter ideia de que não se é dono não quer dizer que não se tenha autoridade ou que não se saiba por onde é que se quer caminhar. Se existem comissões políticas distritais e secções, elas têm uma finalidade. Se não, pelo menos, a possibilidade de escolher os seus candidatos às câmaras, então para que é que existem as bases do PSD e as estruturas intermédias?
E devem ser as bases do PSD a constituir as listas de deputados às próximas eleições?
Aí é diferente! Tem de haver uma partilha de responsabilidades, não pode ser de outra maneira. Penso que os candidatos devem ter ligação aos círculos que vão representar, apesar de a eleição ser nacional e de o deputado ter um mandato nacional, mas ninguém ignora que os círculos são distritais, justamente para que os candidatos possam manter uma ligação muito directa a eles. E tem de haver um equilíbrio de várias posições entre maneiras de ver e sensibilidades internas, visões que se tenham daquele que deve ser o programa do PSD.
Há quem defenda que as autárquicas e as legislativas devem ser no mesmo dia. Que calendário propõe para 2009?
A presidente do PSD já veio dizer que não concorda com uma antecipação das eleições para Junho, e essa será a posição do PSD. Não posso deixar de respeitar a decisão, que espero não seja entendida como um receio face às eleições porque o PSD não tem de mostrar nenhum medo. Já disse, a propósito destes calendários, há nove ou dez meses, e não mudei a maneira de pensar: acho que num ano com tantas eleições se tiver de haver coincidência de eleições para não sujeitar o País a tantos actos eleitorais consecutivamente melhor. Faz mais sentido que as legislativas possam coincidir com as europeias do que poderem coincidir com as autárquicas.
Nisso está de acordo com José Sócrates...
Sim, mas não sei o que é que José Sócrates pensava em Abril do ano passado. Eu pensava isso e disse numa altura em que não havia sondagens.
Mas coincidirem as autárquicas com as legislativas era o melhor para o PSD?
Não sei se seria melhor para o PSD, admitamos que poderia ser melhor mas acho que o PSD não tem de estar aqui a olhar para o umbigo - egoisticamente - sobre o que lhe parece dar mais jeito em função do que são hoje as sondagens.
Portanto, parece-lhe melhor para o País?
A mim parece-me melhor para o País e vou explicar porquê: em primeiro lugar, porque apesar de os eleitores não fazerem grande confusão com as escolhas no plano local e nacional, as estruturas e as pessoas nos partidos que fazem as campanhas eleitorais são basicamente as mesmas! Ora, o PSD é um partido que mais implantação autárquica tem o que quer dizer que a maior parte das pessoas no PSD estará empenhadíssima em renovar os seus mandatos autárquicos. Pergunto, quem é que faz a campanha nacional? Faz-se só na televisão e na rádio?
É a tendência.
Há quem defenda que essa dinâmica do PSD como maior partido autárquico poderia rebocar para um melhor resultado nas legislativas se elas se disputassem na mesma altura. Poderia ter essa vantagem mas já no passado esse efeito não é indiscutível. Prefiro começar com uma vitória, dá outro ânimo ao partido. O que eu sei é que não há consenso para que as eleições ocorram antes e o próprio primeiro-ministro não deve estar muito empenhado ou não teria criado o conflito com o Presidente da República.
É um foco de tensão?
O primeiro-ministro e o PS estiveram muito mal na questão do Estatuto dos Açores.
E o PSD?
Discordei e isso foi público.
Votaria contra?
Com certeza, porque estava a mexer-se no equilíbrio constitucional no que respeita aos poderes do Presidente da República e o actual Parlamento está a prescindir de deliberações inaceitáveis.
Há ou não um foco de tensão entre o Presidente da República e o primeiro-ministro?
Há e foi uma péssima maneira de começarmos 2009. O Presidente deu várias vezes prova de que está empenhado nessa cooperação e o Governo teria uma boa oportunidade de não se sujeitar ao calendário eleitoral e ao interesse do PS.
É um liberal assumido. Quando os governos reforçam a intervenção, tem mais dificuldade em passar essa mensagem?
Eu sou do PSD, que se baseia num princípio de reformismo e de liberalismo.
Prefere o modelo social europeu ou o liberalismo dos Estados Unidos?
Nós precisamos de um Estado regulador e solidário. Estou mais próximo do modelo europeu mas acho que em Portugal se tornou demasiado discricionário e pesado. Eu dei o exemplo da Caixa Geral de Depósitos, onde convinha que o Estado mostrasse que não intervém para proteger os amigos e sem critério. E há a RTP...
Devia haver accionistas privados na Caixa?
Não há condições para estar a fazer privatizações agora, mas devia haver uma entidade a que a CGD se devesse explicar.
Se um dia chegar ao poder, resistirá à tentação de um discurso antes e um depois.
Espero que os políticos da minha geração percebam que esse resultado é demasiado penoso para os países e para a própria classe política e que isso deve ser abandonado em definitivo. Se eu conseguir acrescentar alguma coisa, excelente, a ideia não é ficar no Governo a vida inteira.
DN - João Marcelino & Paulo Baldaia
domingo, 18 de janeiro de 2009
"O PSD não teme cenário de eleições antecipadas"
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